Pesquisadores encontraram ao menos 10 espécies de plantas ameaçadas durante expedição científica realizada na região da Mantiqueira e na Chapada dos Veadeiros, no Cerrado goiano. A atividade integra as ações do Plano de Ação Nacional para a Conservação da Flora Ameaçada de Extinção da Bacia do Alto Tocantins (PAN Bacia do Alto Tocantins), no âmbito do Projeto Pró-Espécies: Todos contra a extinção, e é fundamental para ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade do bioma e fundamentar a elaboração de políticas públicas e estratégias de conservação cada vez mais eficazes.
A expedição foi realizada entre os dias 22 e 27 de julho e os resultados auxiliam no monitoramento e mapeamento da flora da região. Para Marcio Verdi, coordenador do PAN Bacia do Alto Tocantins e coordenador de projetos de Estratégias para Conservação da Flora Ameaçada de Extinção do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (NuEC/CNCFlora/JBRJ), os dados coletados durante essas viagens de campo são a base para as demais ações do plano. “Essa atividade é a base para a execução das demais ações do plano, uma vez que precisamos saber onde estas espécies estão dentro do território, qual a situação delas frente a degradação e perda dos seus ambientes. Em poucos dias no campo, os pesquisadores encontraram algumas das plantas ameaçadas do PAN, incluindo a espécie CR Lacuna, e outras três novas espécies para a ciência. Além disso, identificaram que essa espécie CR Lacuna está em situações críticas de proteção, sendo ameaçadas pela presença do capim-gordura e fogo, principalmente. Precisamos agir imediatamente para evitar que elas sejam extintas”, reforçou.
Um dos destaques da expedição foi o registro da espécie Paepalanthus longiciliatus Trovó, descrita para ciência pelo pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Escola Nacional de Botânica Tropical do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (ENBT/JBRJ), que liderou a atividade. “Fiquei bem satisfeito em reencontrar essa planta. Coletamos material de DNA para estudar a estrutura genética da população e tentar melhorar seu estado de conservação”. Ele ressaltou que esse novo registro é da mesma população da qual foi coletada a primeira amostra, usada para descrever a espécie, há mais de doze anos. A planta está classificada como “Criticamente em perigo” (CR) de extinção pelo Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora/JBRJ) e é considerada uma espécie Criticamente em Perigo – CR Lacuna – e não contava com instrumentos de conservação antes do projeto Pró-Espécies.
Pesquisadores também identificaram no território a presença da planta Stachytarpheta glazioviana S.Atkins (Verbenaceae), avaliada na categoria “Em Perigo” (EN) de extinção devido à perda de seu habitat para pastagem e agricultura, e de outras espécies categorizadas como “Dados insuficientes” (DD).
Há ainda a descoberta de três novas espécies, que estão agora em estudo pelos pesquisadores para confirmação da identidade, descrição e publicação em periódico científico.
A expedição contou com a participação do pós-doutorando Pedro Henrique Cardoso (JBRJ) e dos pós-graduandos Wellerson Picanço Leite e Mylena Cabrini (UFRJ).
PAN Bacia do Alto Tocantins
O PAN Bacia do Alto Tocantins foi oficializado na Portaria JBRJ nº 15, de 6 de junho de 2023, e tem vigência até 2028. O objetivo é ampliar, em 5 anos, as medidas de conservação das espécies-alvo, dos ambientes e a manutenção de serviços ecossistêmicos, com envolvimento de toda a sociedade.
O plano estabelece 24 ações de conservação, divididas em quatro objetivos específicos, que abrangem temas como Pesquisa e Monitoramento, Capacitação e Comunicação, Manejo e Conservação, e Políticas Públicas, com foco em 98 espécies da flora, sendo 14 classificadas na categoria “Criticamente em Perigo” (CR), 58 na categoria “Em Perigo” (EN) e 26 na categoria “Vulnerável” (VU). Também são contempladas 29 espécies classificadas na categoria “Quase Ameaçada” (NT) e 15 na categoria “Dados Insuficientes” (DD). O território do PAN abrange parte do estado de Goiás e do Distrito Federal.
A coordenação do PAN Bacia do Alto Tocantins é realizada pelo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), por meio da Coordenação de Projeto Núcleo Estratégias para a Conservação da Flora Ameaçada de Extinção (NuEC) do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora). O monitoramento e acompanhamento do plano é feito pelo Grupo de Assessoramento Técnico (GAT) instituído pela Portaria de Pessoal JBRJ nº 66, de 6 de junho de 2023. Já a articulação e a execução das ações de conservação são realizadas por mais de 100 colaboradores que representam instituições de distintos setores da sociedade.
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