Mais de 50 mil animais silvestres, por ano, são encaminhados aos Cetas do Ibama para tratamento e reabilitação

Publicado em 17 de junho de 2025
Mais de 50 mil animais silvestres, por ano, são encaminhados aos Cetas do Ibama para tratamento e reabilitação Créditos: Ascom / Ibama

Com denúncias e entregas voluntárias, a sociedade ajuda a frear o sofrimento dos bichos retirados da natureza e submetidos ao tráfico ilegal

Os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama são unidades responsáveis pelo recebimento de animais silvestres apreendidos, resgatados ou entregues espontaneamente pela população, com vistas à execução de serviços de identificação, marcação, triagem, avaliação, tratamento, recuperação, reabilitação e destinação desses animais, tendo como objetivo maior a devolução deles para o meio ambiente. Ao total, são 24 unidades em todo o território nacional. Somente em 2023, os Cetas receberam 54.454 bichos, que passaram por um processo de recuperação com o principal objetivo de serem soltos na natureza, reencontrando sua liberdade.

Nesses espaços, as diferentes espécies se movem por um fluxo, que se inicia com o recebimento, concretizado por meio da apreensão, resgate ou entrega voluntária. A apreensão acontece quando órgãos competentes, como por exemplo o Ibama e o Batalhão de Polícia Militar Ambiental, retêm os bichos submetidos ao tráfico ilegal, maus-tratos e outros crimes contra a fauna. Já o resgate é motivado pelo aviso às autoridades, que recolhem e levam o animal, geralmente ferido, para o Cetas.

Crédito: Ascom / Ibama

Por sua vez, a entrega voluntária resultou em 8.355 indivíduos devolvidos espontaneamente em 2023 no país. A prática ocorre a partir da conscientização de pessoas que possuem espécies silvestres em casa, entendendo que o bicho pode ter um futuro melhor. A sua recuperação começa no centro.

A etapa seguinte é a triagem, quando a equipe avalia o indivíduo, verificando se ele está saudável, ferido ou se necessita de algum tratamento veterinário. Segundo a chefe do Cetas do Distrito Federal, Rayane Leal, “muitas vezes, os animais chegam com glicemia baixa, desidratação, hipotermia, então, a gente precisa fornecer os cuidados primários de urgência e depois ele vai para a marcação”.

Na marcação, há a identificação com microchip ou anilha, anéis fixados nas pernas das aves. A prática permite rastrear cada bicho e seu desenvolvimento enquanto ele está no centro. Depois da quarentena de, no mínimo, 15 dias, ele passa pela reabilitação e a reabilitação no recinto. Quando entra no recinto, se encontra com animais semelhantes e aprende, ou reaprende, seus comportamentos naturais, como voar ou caçar. É importante, nessa fase, romper o vínculo anterior com os seres humanos.

Após a reabilitação, os bichos recebem um novo destino. Muitos são soltos e, aqueles que não possuem condições para o retorno ao seu habitat, são levados para um ambiente controlado onde podem viver segundo as características naturais da sua espécie. Assim, são recebidos por zoológicos ou outros locais autorizados.

Além da recuperação, também são realizados estudos e pesquisas para compreender como promover a educação ambiental, garantir o bem-estar animal e controlar zoonoses, as doenças transmitidas entre bichos e seres humanos.

Recentemente, o Cetas do Distrito Federal recebeu um grupo de filhotes de periquitos. Eles são muito visados pelo tráfico e é comum as pessoas não saberem que manter esses pássaros em casa é um crime. Em 2023, o centro do DF recebeu 4.838 animais, sendo que as aves representam mais de 70% dos acolhimentos.

Leal enfatiza a importância da entrega voluntária. A chefe do Cetas DF argumenta que essa é uma maneira de retirar o animal silvestre do ambiente doméstico (não adequado para as suas necessidades), impedir que o bicho seja solto sem reabilitação (podendo inclusive gerar impactos nos biomas) e evitar punições e multas por esse crime ambiental.

“Na entrega voluntária, a pessoa não vai ter sanção nenhuma. É uma forma dela resolver esse problema sem penalidades. Ela se ajuda, ajuda o animal, ajuda a natureza e ajuda o meio ambiente como um todo. São muitos os benefícios”, explica Leal.

Daiane Cortés / Ibama

Para fazer a devolução espontaneamente, é necessário se dirigir ao Cetas mais próximo da sua região. Além disso, as denúncias de tráfico ilegal de animais silvestres também ajudam a manter os bichos protegidos. Essa ação pode ser feita por meio do Fala.Br (https://falabr.cgu.gov.br) e da Linha Verde do Ibama (0800 061 8080). O anonimato é assegurado para o denunciante.

 

Campanha de conscientização

Com a intenção de promover a sensibilização ampla da sociedade, o Ibama, em parceria com o WWF-Brasil, lançou a campanha “Se não é livre, eu não curto”. As ações convidam os cidadãos a evitarem a interação com conteúdos que exploram os bichos silvestres, se questionarem sobre o desejo de comprar essas espécies e denunciarem a violação dos direitos animais.

A conscientização começou junto com os preparativos para a Semana do Meio Ambiente e continua após a data para reforçar a mensagem de proteção à fauna silvestre. Criado em 1974 pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia do Meio Ambiente (5 de junho) promove internacionalmente uma celebração e alerta em defesa da preservação ambiental.

A campanha de combate ao tráfico de animais silvestres é coordenada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama)  no âmbito do Componente 2 – Combate a caça, pesca, extração ilegal e tráfico de espécies silvestresdo projeto Estratégia Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção – Pró-Espécies: Todos contra a extinção.

O Pró-Espécies é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança da Clima (MMA) e financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (Global Environment Facility – GEF). O Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) atua como agência implementadora e o WWF-Brasil atua como agência executora.

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