A avaliação e validação são passos fundamentais para definir a categoria de ameaça da espécie
Por Mariana Gutiérrez
A Oficina de avaliação do estado de conservação de borboletas contemplou 87 espécies de borboletas como parte do segundo ciclo de avaliação do risco de extinção de espécies da fauna brasileira. A atividade é contemplada no Componente 1 – Incorporação de conservação de espécies ameaçadas em políticas setoriais do Projeto Pró-Espécies: Todos contra a extinção.
A oficina foi coordenada e executada pelo Centro Nacional de Avaliação da Biodiversidade e de Pesquisa e Conservação do Cerrado (CBC), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no fim de maio, por meio de uma plataforma online.
As borboletas são bioindicadores dos ecossistemas, ou seja, sua presença ou ausência pode indicar se o habitat é degradado ou se é saudável. Elas também promovem a polinização de várias plantas quando voam de flor em flor para coletar o néctar. Sendo assim, as borboletas exercem um papel fundamental para a preservação de muitas espécies.
Entre as espécies avaliadas, estão a Eurytides callias, uma espécie amazônica, a Enantia clarissa que ocorre na Argentina e no Brasil, a Arcas ducalis, a Mesosemia acuta que é endêmica do Brasil, a Prepona deiphile, e ainda a Ochropyge ruficada.
Participaram especialistas de oito universidades e centros de pesquisa: Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Museu Paraense Emílio Goeldi e CBC, com pesquisadores representantes de todas as regiões do Brasil. Foi a primeira oficina de avaliação conduzida pelo CBC em ambiente virtual, em decorrência da impossibilidade de viagens e oficinas presenciais impostas pela pandemia de COVID-19.
Processo de avaliação e validação
Inicialmente foram selecionadas espécies na avaliação do primeiro ciclo que estavam categorizadas como Menos Preocupante (LC, do inglês Least Concern) – de acordo com a metodologia da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) – para as quais as discussões contempladas nos procedimentos de avaliação costumam envolver um menor nível de complexidade quando estas são comparadas a espécies potencialmente ameaçadas ou quase ameaçadas.
Após um breve nivelamento teórico, cada espécie foi discutida em plenária e por consenso foi identificada sua categoria de risco de extinção. Das 87 espécies de borboletas avaliadas, 84 foram mantidas na categoria Menos Preocupante (LC) e uma foi categorizada como Dados Insuficientes (DD, do inglês Data Deficient). Por último, duas espécies foram transferidas para que sejam avaliadas em oficinas posteriores, que visam discutir outras categorias de avaliação.
Esses resultados ainda passarão por validação por especialistas no método de avaliação, que verificarão se a metodologia foi aplicada adequadamente, se as informações mencionadas para justificar a categorização estão suficientemente detalhadas e se a ficha da espécie foi utilizada como referência.
Segundo o professor Dr. André V.L. Freitas da Universidade de Campinas (Unicamp), coordenador de táxon de borboletas no processo de avaliação, “o trabalho foi conduzido, como habitualmente, de modo muito criterioso e responsável, com uma rigorosa compilação de registros de ocorrência das espécies, de modo a embasar todas as decisões tomadas na avaliação de cada táxon. Isso foi possível graças ao excelente time de especialistas convidados para participar da oficina e da reunião preparatória”.
Arthur Brant Pereira, ponto focal do CBC/ICMBio para avaliação de borboletas, considera que “a avaliação de mais de 3.000 espécies de invertebrados terrestres, tarefa do CBC, só poderá ser bem executada se contarmos com estreito apoio da comunidade científica. A avaliação ocorrida em maio é um ótimo exemplo dessa parceria profícua e relevante para a conservação da diversidade biológica brasileira, pois, a partir do diagnóstico realizado pela avaliação do risco de extinção das espécies, podemos auxiliar e aprimorar diversas outras políticas públicas voltadas para a conservação da nossa fauna.”
A avaliação do risco de extinção de espécies e sua consequente categorização quanto ao grau de ameaça são essenciais para o estabelecimento de estratégias de conservação, como a criação de Unidades de Conservação (UCs) e a elaboração de Planos de Ação Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas (PANs) e Planos de Redução de Impacto (PRIMs).
*Em colaboração técnica com Marcio Uehara e Rodrigo Silva do CBC/ICMBio