ICMBio comemora o Dia Mundial das Abelhas com novo plano de ação

Publicado em 22 de maio de 2023
ICMBio comemora o Dia Mundial das Abelhas com novo plano de ação Créditos: Reisla Oliveira

A proposta é mitigar as ameaças prioritárias que incidem sobre os insetos polinizadores e garantir sua conservação

As abelhas são fundamentais para a reprodução das plantas e, com isso, colaboram com a limpeza do ar, estabilizam o solo e são responsáveis pela sobrevivência de outros animais. Todos esses serviços ecossistêmicos são prestados por estes insetos, que vêm sofrendo ao longo dos anos com a perda de habitat devido, principalmente, ao uso de agrotóxicos, expansão agrícola e urbana, mudanças climáticas e queimadas.

No mês em que se comemora o Dia Mundial das Abelhas (20 de maio), data estabelecida pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2017 para incentivar a educação e ações públicas para maior consciência sobre estes polinizadores, vale a reflexão: o que o mundo tem feito para proteger esses animais?

A manutenção da biodiversidade no planeta depende da preservação de cada um desses insetos, que junto com borboletas, mariposas, aves e alguns mamíferos são responsáveis pela polinização de pelo menos 70% das plantas. Eles se alimentam do néctar e do pólen das flores e essa ação, tão automática para eles, é fundamental para a reprodução da flora e pela produção de frutos e  sementes. 

A polinização é um trabalho gratuito fornecido pelas espécies nativas e estima-se que o valor desse serviço prestado pelos animais à agricultura brasileira ultrapasse a cifra de US$ 11 bilhões por ano, de acordo com a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos.

“Na ausência desse serviço e dos polinizadores, teríamos que gastar muito dinheiro para realizar essa ação de maneira artificial ou manual. O colapso das abelhas, portanto, geraria impacto tremendo na humanidade”, complementou Onildo Marini Filho, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que coordena a maior ação de conservação voltada para esse grupo de animais: o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Insetos Polinizadores (PAN Insetos Polinizadores).

Crédito: Luiza_Azara. Melipona rufiventris

As primeiras reuniões para a elaboração do plano começaram em março de 2020 e, até a publicação da portaria em 5 de dezembro de 2022, mais de 270 pessoas e 124 instituições se debruçaram sobre o tema a fim de desenvolver ações que promovam a conservação dos habitats e a recuperação de populações de polinizadores. A proposta é mitigar as ameaças prioritárias que incidem sobre os insetos polinizadores que são o abuso de agrotóxicos, perda e fragmentação de habitat, incêndios ambientais, mudanças climáticas, espécies exóticas invasoras e manejo inadequado de abelhas. 

“A maior ameaça e que gera um grande impacto é o uso de agrotóxicos. Percebemos que há um abuso no uso dessas substâncias e estamos tentando combater essa tendência investindo em educação no campo. Existem novos compostos com poder letal para abelhas e demais insetos que podem gerar uma redução drástica na população desses animais”, completou Onildo.

Mais de 60 espécies ameaçadas de extinção são reconhecidas como polinizadoras, dentre elas borboletas, mariposas e abelhas, estão contempladas no plano, apoiado pelo Pró-Espécies: Todos contra a Extinção. O PAN também abrange outras 33 espécies de abelhas e borboletas ameaçadas a nível estadual, presentes nas listas do Pará, Bahia, São Paulo e Minas Gerais. Até 2027, mais de 70 ações articuladas por 58 articuladores e pelo menos 180 colaboradores estarão focadas na melhoria do estado de conservação desses pequenos invertebrados. 

“Esse PAN é inovador, pois foi o primeiro do ICMBio a ter esse foco em serviços ecossistêmicos e veio para sanar essa lacuna que era a falta de instrumentos de conservação dessas espécies de invertebrados”, reforçou Onildo Marini Filho. 

Próximo passos 

O Grupo de Assessoramento Técnico (GAT) para acompanhar a implementação e realizar a monitoria e avaliação do Plano realizou nos dias 18 e 19 o primeiro encontro para oficializar o início dos trabalhos. Os membros deverão fazer a interlocução entre diferentes atores, incluindo a sociedade, realizar a elaboração de indicadores e metas, sistematizar as informações, além de avaliar o alcance das metas e objetivos do PAN.

“Para elaborar esse PAN, nós utilizamos das experiências anteriores e o foco é aumentar a efetividade das ações de conservação. O primeiro passo foi ampliar o convite para que mais pessoas participassem do processo, envolvendo esforços dos órgãos de meio ambiente, de organizações não governamentais e do setor produtivo. A gestão do plano também foi dividida em 7 núcleos, de acordo com áreas temáticas e regiões geográficas, para que os participantes tenham funções administrativas. Nossa expectativa a partir de agora é dar mais visibilidade aos polinizadores e envolver cada vez mais pessoas na conservação”, acrescentou o coordenador do PAN. 

Preservação

Além do empenho do governo, órgãos ambientais, organizações, pesquisadores, a sociedade tem um papel fundamental na preservação dos polinizadores. Cultivar um jardim com flores nativas para atrair abelhas e borboletas, evitar o uso de venenos em casa, buscar alimentos orgânicos são ações cotidianas capazes de impactar positivamente na conservação não só dos insetos, mas de toda a biodiversidade. 

“A manutenção da biodiversidade depende dos polinizadores, que conseguem reproduzir as plantas. Sem abelhas não teríamos tanta diversidade. Esse é um processo intrínseco desses animais e a vida terrestre depende deles”, reforçou a bolsista do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Restauração Ecológica do ICMBio, Hannah Farinasso.

Apesar da situação dos polinizadores, em especial das abelhas, ser preocupante e grave do ponto de vista da preservação, o momento é de celebração. “Temos sim que comemorar o Dia das Abelhas, pois estamos em um momento de otimismo, em que podemos executar ações de preservação e tornar possível a conservação desses animais”, adiantou Onildo Marini Filho.

Crédito: Onildo Marini. Parides burchellanus

Pró-Espécies

O Projeto Pró-Espécies apoia técnica e financeiramente a elaboração e implementação de 12 Planos de Ação Territoriais e Nacionais para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção (PATs/PANs) presentes no diferentes biomas brasileiros como a Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Amazônia e Pampas. Esses instrumentos de gestão são fundamentais para a conservação da biodiversidade e ambientes naturais e têm o objetivo de influenciar políticas públicas, desenvolver conhecimento, sensibilizar comunidades e manejar espécies.  

O Pró-Espécies procura alavancar iniciativas para reduzir as ameaças e melhorar o estado de conservação de pelo menos 290 espécies categorizadas como Criticamente em Perigo (CR) e que não contam com nenhum instrumento de conservação e conta com o envolvimento dos 13 estados: Maranhão, Bahia, Pará, Amazonas, Tocantins, Goiás, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. A área de atuação ultrapassa 62 milhões de hectares. 

A iniciativa é financiada pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, da sigla em inglês para Global Environment Facility Trust Fund), sob a coordenação do Departamento de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). É implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e tem o WWF-Brasil como agência executora. Entre os parceiros, além do ICMBio, estão o  Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Órgãos Estaduais de Meio Ambiente.

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