Expedição científica ao extremo sul da Bahia gera conhecimento para a conservação da biodiversidade brasileira

Publicado em 10 de novembro de 2023
Expedição científica ao extremo sul da Bahia gera conhecimento para a conservação da biodiversidade brasileira Créditos: Lucas Barbosa

A primeira expedição realizada no âmbito do Plano de Ação Nacional para a Conservação de Árvores Ameaçadas de Extinção do Sul da Bahia (PAN Hileia Baiana), publicado em agosto, coletou aproximadamente 650 amostras vegetais além de ter identificado possíveis novas espécies, nunca antes descritas pela ciência, ou novas ocorrências em relação a exemplares previamente desconhecidos para a região do extremo sul da Bahia. Os pesquisadores que participaram da ação também coletaram amostras de tecido para estudos de biologia molecular e espécimes para cultivo, representando uma rica diversidade de 75 famílias botânicas. 

A atividade foi realizada entre 16 e 30 de agosto pelo Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) e faz parte da implementação do recém-lançado PAN Hileia Baiana, no âmbito do Projeto Pró-Espécies: Todos contra a extinção

A expedição abrangeu quatro municípios baianos – Prado, Porto Seguro, Itamaraju e Guaratinga -, e incluiu visitas a áreas críticas para a conservação regional, como o Parque Nacional do Descobrimento, o Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal, o Parque Nacional do Alto Cariri, Assentamento Pedra Bonita, Assentamento Pau Brasil e os Inselbergs (Afloramentos Rochosos) de Guaratinga. 

A região do extremo sul da Bahia enfrenta uma série de ameaças complexas e interconectadas, incluindo o desmatamento decorrente da expansão agropecuária, a exploração madeireira, o corte seletivo de espécies madeireiras de alto valor comercial, e os conflitos territoriais. Outros desafios incluem a expansão da pecuária, da silvicultura de eucalipto, o crescimento urbano desordenado e o turismo não regulamentado, especialmente nos municípios costeiros, que aumentam a pressão sobre os recursos naturais da região. 

A expedição documentou a pressão exercida pelas monoculturas e pastagens, que representam uma ameaça significativa às espécies nativas e ameaçadas, inclusive em áreas próximas às Unidades de Conservação. Na avaliação dos pesquisadores, é imperativo fortalecer medidas de proteção, como a expansão de projetos de restauração, adoção de práticas agrícolas sustentáveis, criação de corredores ecológicos para conectar Unidades de Conservação e aprimoramento da fiscalização contra atividades ilegais. 

Representantes do JBRJ, da Universidade Estadual de Santa Cruz, do Programa Arboretum de Conservação e Restauração da Diversidade Florestal e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) participaram da expedição. 

Crédito: Eduardo Fernandez / JBRJ

 

Referência Nacional

O Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), do JBRJ, é referência nacional na geração, coordenação e disseminação de informações relacionadas à biodiversidade e à conservação da flora brasileira ameaçada de extinção. O órgão é encarregado da elaboração da lista das espécies ameaçadas de extinção da flora brasileira em colaboração com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Além disso, está sob sua responsabilidade a formulação e implementação de ações direcionadas à conservação em áreas especificamente designadas. 

Entre as principais missões do CNCFlora estão a coordenação, promoção e contribuição para todas as condições necessárias destinadas a evitar a extinção de espécies da flora brasileira. Isso é feito em consonância com as metas estabelecidas pela Estratégia Global para a Conservação de Plantas (GSPC) e o mandato nacional de avaliar o risco de extinção das espécies da flora brasileira, visando à construção da Lista Vermelha Nacional. 

Além disso, o CNCFlora coordena a elaboração de planos de ação e a identificação de áreas prioritárias para a conservação de espécies ameaçadas de extinção. Também realiza expedições científicas para coletar dados primários em regiões consideradas prioritárias para a conservação da flora brasileira.

Crédito JBRJ

 

PAN Hileia Baiana

Em um importante marco para a conservação da biodiversidade, o PAN Hileia Baiana foi oficialmente publicado em setembro deste ano e tem vigência até 2028. O objetivo é promover a conservação e aumentar o conhecimento sobre as espécies-alvo e de seus ambientes. 

O PAN estabelece 31 ações divididas em quatro objetivos específicos que abrangem temas como: pesquisa e monitoramento, capacitação e comunicação, manejo e conservação e políticas públicas. As atividades serão conduzidas por 19 articuladores e contarão com o apoio de 118 colaboradores. 

A região da Hileia Baiana, conhecida por sua riqueza biológica e elevada diversidade de espécies, abriga inúmeras árvores ameaçadas de extinção, sendo lar de 21 espécies classificadas como Criticamente em Perigo. O plano representa um esforço conjunto de diversas instituições, incluindo empresas, organizações de pesquisa, órgãos governamentais e a sociedade civil, para garantir a sobrevivência dessas preciosas espécies e preservar o patrimônio natural da Mata Atlântica na região sul da Bahia. Acesse a matéria no site do JBRJ.

Crédito: Glaucia Crispim

 

Planos de Ação Nacionais 

Cada Plano de Ação Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção (PAN) é um instrumento de gestão e política pública, construído de forma participativa, para o ordenamento e a priorização de ações para a conservação da biodiversidade e seus ambientes naturais, com um objetivo estabelecido em um horizonte temporal definido. 

As estratégias são definidas a partir da análise das principais ameaças que contribuem para a diminuição das populações de espécies classificadas como ameaçadas de extinção. Dessa forma, os PANs têm o potencial de promover o desenvolvimento sustentável, a pesquisa, a educação ambiental, a conservação dos ecossistemas, a recuperação populacional e, consequentemente, a diminuição do risco de extinção. 

Iniciativas como o Pró-Espécies auxiliam na conservação da biodiversidade brasileira. O projeto é coordenado pelo MMA, financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, da sigla em inglês para Global Environment Facility Trust Fund), implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e tem o WWF-Brasil como agência executora. A proposta é implementar políticas públicas voltadas à conservação de pelo menos 290 espécies brasileiras categorizadas como ameaçadas de extinção e alavancar iniciativas que reduzam as ameaças à fauna e à flora do país.

*Com informações do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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