Ações do PAT Planalto Sul contribuem para o controle de espécie exótica invasora em Santa Catarina

Publicado em 17 de junho de 2025
Ações do PAT Planalto Sul contribuem para o controle de espécie exótica invasora em Santa Catarina Créditos: Acervo IMA-SC

Com o objetivo de fortalecer o controle da espécie exótica invasora Sus scrofa, popularmente conhecida como javali, o Projeto Pró-Espécies: Todos contra extinção realizou a compra de armadilhas para captura desses animais. A ação integra o Plano de Manejo e Controle do Javali em Santa Catarina e se concentrou na região do PAT Planalto Sul, considerada uma das mais impactadas pela presença da espécie.

As armadilhas, do tipo curral, modelo Pampa e de rede, foram adquiridas com recursos solicitados ao Pró-Espécies em 2023 e começaram a ser instaladas em propriedades rurais e unidades de conservação a partir de outubro de 2024. Ao todo, foram instaladas 25 armadilhas – cinco durante os cursos práticos e outras 20 entregues a produtores rurais e áreas protegidas conforme critérios técnicos estabelecidos.

Segundo Elaine Zuchiwschi, engenheira agrônoma e coordenadora do Programa Estadual de Espécies Exóticas Invasoras de Santa Catarina, o apoio financeiro do Pró-Espécies foi fundamental para fomentar uma prática ainda pouco utilizada no estado: “Temos estimativas de que menos de 3% das capturas de javalis em Santa Catarina são feitas a partir do uso de armadilhas. Com esse projeto, conseguimos difundir essa tecnologia, sendo mais uma alternativa, sendo que o método de perseguição com cães é o mais  utilizado no estado.”

Cursos e capacitação

Como contrapartida ao apoio do Pró-Espécies, o estado de Santa Catarina, por meio de diversas instituições parceiras, promoveu cinco cursos práticos entre outubro de 2024 e março de 2025. As atividades foram organizadas pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), em conjunto com a Cidasc, Polícia Militar Ambiental, Secretaria da Agricultura, IBAMA, UFSC, Udesc e Embrapa Suínos e Aves.

Os cursos abordaram temas como legislação para o controle do javali, sanidade animal, uso de armadilhas e coleta de material biológico para monitoramento sanitário. Foram instaladas armadilhas nas propriedades de agricultores participantes como parte prática dos cursos, em municípios como Capão Alto, Lages, Bom Jardim da Serra, e também em áreas de conservação como o Parque Nacional de São Joaquim e na comunidade tradicional Quilombo São Roque.

A escolha dos locais seguiu critérios técnicos como presença significativa de javalis, áreas com espécies alvo do PAT Planalto Sul, com perdas agrícolas, áreas com início de invasão e prioritárias para conservação. “Um dos nossos desafios é tornar o uso das armadilhas mais comum, seguro e eficiente. Por isso, os cursos e o suporte técnico são essenciais”, destaca Elaine.

Critérios de distribuição e monitoramento

Para receber uma armadilha, o agricultor precisava ter participado de um dos cursos, possuir propriedade no município atendido, demonstrar interesse e permitir o uso da propriedade para a parte prática do treinamento. As armadilhas foram instaladas de forma definitiva pelas empresas contratadas. O acompanhamento do uso das armadilhas tem sido feito principalmente por meio de grupos de WhatsApp e visitas técnicas pontuais.

Impactos e desafios

A presença de javalis em Santa Catarina tem causado impactos severos tanto na agricultura quanto no meio ambiente. Espécie altamente reprodutiva e adaptável, o javali compromete lavouras de milho, soja, mandioca e cana-de-açúcar, além de degradar nascentes, solos e áreas de vegetação nativa. Há ainda preocupações sanitárias: os javalis podem ser vetores de doenças como febre aftosa e peste suína clássica, o que coloca em risco a principal cadeia produtiva do estado – a suinocultura.

A destinação dos animais capturados é o abate com arma de fogo, realizado por controladores autorizados. Segundo Elaine, o método com armadilhas permite um manejo mais  controlado porque todas as etapas podem ser planejadas com antecipação, os animais são atraídos para local de fácil acesso e evita-se o afugentamento para locais de difícil acesso. 

“Ainda temos muito a avançar. A instalação das armadilhas foi apenas o começo. Agora, nosso foco será continuar acompanhando e orientando, capacitando mais pessoas e melhorando o uso dessas ferramentas para que os produtores tenham mais uma alternativa de controle e, ao mesmo tempo, contribuam com a conservação do meio ambiente”, conclui a coordenadora.

De acordo com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o javali, originário da Europa, Ásia e norte da África, é hoje uma das espécies invasoras mais perigosas para o meio ambiente e a agropecuária de Santa Catarina. Altamente adaptável e sem predadores naturais no Brasil, o animal vive em bandos numerosos, reproduz-se rapidamente — com até duas ninhadas de oito filhotes por ano — e apresenta comportamento agressivo. Um macho adulto pode pesar até 200 quilos, o que o torna uma ameaça real também à integridade física de seres humanos e de outros animais. Sua presença tem se espalhado pelo estado de forma alarmante, com registros em mais da metade dos municípios catarinenses.

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