O Brasil marca novamente o protagonismo das ações internacionais para a conservação ambiental planetária. O país apresentou os resultados do Pró-Espécies: Todos contra a extinção, como um dos destaques da 16ª edição da Conferência sobre Biodiversidade mais importante do mundo, a COP da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB), realizada em Cali, na Colômbia, entre 21 de outubro e 1º de novembro. A apresentação foi realizada no Abema’s Biodiversity Day.
“Em áreas de atuação que abrangem 62 milhões de hectares — espaço superior ao tamanho da França — nos comprometemos a conservar 290 espécies criticamente em perigo, que são aquelas do mais alto grau de ameaça, por isso o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) convidou os estados brasileiros para executar esta estratégia”, afirmou Sara Alves, coordenadora do Plano de Ação Territorial, o PAT Chapada Diamantina Serra da Jiboia, que é um dos programas estruturantes da Bahia, em 4 milhões de hectares, localizados em 56 municípios.
Tamanha grandeza está representada na região central do estado pela vasta cordilheira conhecida como Cadeia do Espinhaço, onde estão as maiores altitudes do Nordeste que incluem caatinga, cerrado, campos rupestres e porções de mata atlântica, onde sobressaem orquídeas, bromélias e sempre-vivas, além de fauna exuberante em paisagens de chapadões encachoeirados.
Sara relata que os primeiros passos deste PAT, que é um dos 11 outros planos de ação do Pró-Espécies, foi a elaboração de dois mapas que vão embasar ações até 2025: um para a identificação de áreas estratégicas de conservação e outro de áreas estratégicas para restauração. Ela citou que das 27 espécies oficialmente incluídas no plano, as iniciativas na prática acabam beneficiando outras 339 da fauna e flora que vivem neste território e fazem parte de listas federais e estaduais ameaçadas de extinção.
“Tivemos 23 expedições com pesquisadores e pesquisadoras da Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual de Feira de Santana, Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Das 27 espécies neste grau de criticamente ameaçadas, conseguimos recoletar 21 espécies. Ao todo, essas viagens geraram 2 mil espécimes coletadas, incluindo raras, novas ocorrências no estado da Bahia e até novas espécies para a ciência. Todas nativas do Brasil, afirmou. Durante sua fala, Sara Alves homenageou a coordenadora do trabalho, a botânica Nádia Roque, que havia morrido cerca de um mês antes, em 10 de outubro de 2024.
Sara destacou entre os resultados importantes das coletas a descoberta da bromélia Cryptanthus species (Bromeliaceae: Bromelioideae) já descrita pelo professor Everton Hilo, da UFRB, com equipe do JBRJ. Ela também citou que com dados que já tinham do território as equipes do Pró-Espécies conseguiram realizar oficinas presenciais e virtuais de pesquisadores para montar a lista de espécies invasoras de todo o estado da Bahia, com publicação em maio de 2023, em portaria conjunta da Secretaria e Instituto Estadual e de Meio Ambiente.
“O projeto ainda não acabou, mas já temos do Ministério Público um Termo de Ajuste de Conduta para obter recursos para elaborar, em abril do ano que vem, o guia para gestão de espécies exóticas invasoras para as prefeituras municipais do estado”, comemorou Sara Alves, anunciando que o lançamento será no território, com distribuição para todos os municípios baianos.
Também foram apresentados resultados do PAT Meio Norte, que abrange um conjunto de 13 estados, que como os demais planos são financiados pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e coordenado pelo Departamento de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade (DCBio/MMA). O WWF-Brasil é a agência executora do projeto. A apresentação foi da coordenadora Laís de Morais Rêgo, analista ambiental da Superintendência de Biodiversidade de Áreas Protegidas da Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão.
“Um dos resultados que tivemos foi o reconhecimento do próprio território, que inclui terras indígenas, comunidades tradicionais, além do Centro de Endemismo Belém, entre os estados do Maranhão e Pará [128 municípios em uma das regiões mais ricas e ameaçadas da Amazônia]”, citou Laís de Morais, ressaltando que além das 12 espécies alvo do PAT as ações beneficiam outras 60. Ela contou que foram realizadas expedições e que, em uma delas, os indígenas ajudaram os cientistas a encontrar oito anhuma, que são aves das mais ameaçadas da região.
“Há 40 anos, não eram vistas. Foram encontradas na Terra Indígena Mãe Maria. Para se ter uma ideia da importância desse resultado, temos conhecimento de apenas 50 anhuma vivendo no Brasil”, contou Laís de Morais. A TI do povo Gavião Parkatejê localiza-se em Bom Jesus do Tocantins, no Pará. Ela também destacou que o engajamento dos indígenas na descoberta das aves é significativo para que as populações se envolvam nas ações de conservação da espécie.
A coordenadora do PAT Meio Norte explicou que foram realizados trabalhos de vídeos para a divulgação das ações e trabalhos científicos, que irão contribuir com as tarefas de professores nas escolas. Com a contribuição do Pró-Espécies, o Maranhão terá também a sua primeira lista de espécies ameaçadas.
A analista de conservação do WWF, Marina Correia, acentuou a importância dos estados para a execução dos PAT. “Vivemos um cenário extremamente alarmante, mas a boa notícia é que dá tempo de agir. Aumentando os esforços de conservação, com novas ideias, integradas às que já existem, a gente consegue reverter o declínio da biodiversidade. Para isso precisamos de ações que tragam a perspectiva de conservação e uso sustentável, olhando o sistema como socioecológico”, disse.
Marina Correia enfatizou que o Marco Global da Biodiversidade foi aprovado em 2022, favorecendo a integração das diferentes ações para o começo das soluções de combate às emergências. “E mais uma boa notícia é que já existem movimentos para trazer a implementação deste marco global para níveis locais. Já estamos agindo de forma integrada”, comemorou.
O programa
Os resultados do Pró-Espécies: Todos contra a extinção foram apresentados na COP no Espaço Brasil, organizado pelo MMA. O programa criou mecanismos para a redução de 290 espécies categorizadas como Criticamente em Perigo (CR), das quais 193 não tinham nenhum instrumento de conservação até 2014, quando foi criado. Essa é uma resposta direta ao crescente número de espécies ameaçadas e à necessidade de fortalecer a rede de apoio e de trabalho em prol da preservação e o Projeto Estratégia Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção – Pró-Espécies: Todos contra a extinção foi criado para a implementação do programa em 2018. As atividades se desenvolvem em 12 estados (MA, BA, PA, TO, GO, SC, PR, RS, MG, SP, RJ e ES), em 62 milhões de hectares, com investimentos que chegam a R$ 62,5 milhões do Fundo Global para o Meio Ambiente.