Pesquisadores do PAT Espinhaço Mineiro desenvolvem estratégias para proteger maior predador da Bacia do Rio Doce
Ações recentes realizadas no âmbito do Plano de Ação Territorial para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção do Espinhaço Mineiro (PAT Espinhaço Mineiro) identificaram uma ameaça grave ao Surubim-doce (Steindachneridion doceanum), espécie endêmica e criticamente ameaçada de extinção na Bacia do Rio Doce. Pesquisadores localizaram dragas de ouro operando em um dos poucos refúgios naturais desse predador aquático, que pode chegar a 1,20 metros e pesar até 22 quilos.
A destruição do habitat é a principal ameaça da espécie e as dragas destroem o fundo dos rios onde o surubim vive e contaminam o ecossistema aquático. A mineração também pode liberar contaminantes na água, mover os sedimentos do rio e destruir as áreas de refúgio. A pesca predatória e as mudanças no habitat também são fatores que agravam essa situação, restringindo a presença do peixe a apenas três áreas na bacia: Rio Piranga (Ponte Nova e Guaraciaba), Rio Santo Antônio (Ferros) e Rio Manhuaçu (Aimorés).
Para assegurar a sobrevivência da espécie, quatro exemplares estão sob cuidados especializados no Aquário do Zoológico de Belo Horizonte. O objetivo é gerar conhecimento sobre o surubim, uma vez que a biologia e as necessidades de conservação são desconhecidas. Faltam dados sobre características importantes como alimentação e padrões comportamentais para o desenvolvimento de estratégias eficazes de manejo e conservação. Com o acompanhamento de profissionais, será possível gerar produção científica e promover a reintrodução da espécie em seu habitat natural.
Colaboração
Para proteger o Surubim-doce, as equipes do PAT Espinhaço Mineiro têm atuado em parceria com pescadores locais, orientando-os na captura de exemplares para estudo de conservação. A atividade é um desafio que requer conhecimento técnico e específico sobre a melhor época e comportamentos da espécie. Por isso, houve um esforço para repassar orientações detalhadas aos trabalhadores que, agora, conseguem auxiliar no processo.
Os peixes capturados passam por triagem e quarentena e, em seguida, começam as atividades para conservação e reprodução em cativeiro. O objetivo é repovoar habitats naturais degradados e mapear áreas compatíveis para a reintrodução da espécie, assegurando o equilíbrio ecológico dos rios, onde o Surubim-doce exerce um papel crucial como predador.
O peixe é uma das espécies-alvo do PAT Espinhaço Mineiro, desenvolvido no âmbito do Pró-Espécies: Todos contra a extinção. O plano abrange uma área com 105.251 km2, perpassando os biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. São alvo desse PAT 24 espécies CR lacunas, sendo 19 espécies da flora, 3 espécies de peixes (incluindo o surubim) e 2 espécies de invertebrados. Os efeitos positivos das ações também serão refletidos em pelo menos 1.787 outras espécies ameaçadas presentes no território.
O PAT Espinhaço Mineiro é coordenado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG) e foi desenvolvido como uma estratégia integrada para a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais dos ecossistemas presentes na região da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço.
O Pró-Espécies, instituído em 2014, é a maior iniciativa de conservação para espécies criticamente ameaçadas de extinção do mundo. O projeto trabalha em conjunto com 12 estados do Brasil (AM, MA, BA, PA, TO, GO, SC, PR, RS, MG, SP, RJ e ES) para desenvolver estratégias de conservação em 24 territórios, totalizando 62 milhões de hectares.
Prioriza a integração da União e estados na implementação de políticas públicas, assim como procura alavancar iniciativas para reduzir as ameaças e melhorar o estado de conservação de pelo menos 290 espécies categorizadas como Criticamente em Perigo (CR), das quais 193 não contavam com nenhum instrumento de conservação, sendo 112 da Flora, 50 Peixes Continentais, 19 Invertebrados Terrestres, 6 Invertebrados Aquáticos, 2 Peixes Marinhos, 2 Répteis, 1 Ave e 1 Mamífero.
O Pró-Espécies é financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), sendo o WWF-Brasil a agência executora.