Mais de cinco mil pinheiros (Pinus) serão retirados de uma área de Cerrado na Chapada Diamantina nos próximos meses. Os pinheiros precisam ser retirados com urgência, pois estão afetando negativamente a estrutura e funcionamento do Cerrado invadido e as sementes estão sendo dispersas para o Parque Nacional Chapada Diamantina e para a Área de Proteção Ambiental Marimbus-Iraquara. A constatação é resultado de um monitoramento coordenado pelo professor Abel Conceição da Universidade Estadual de Feira de Santana e realizado pelas pesquisadoras Graziela Lima e Dayse Morais.
A espécie foi plantada no território inicialmente em 1976 por um fazendeiro que tinha a intenção de usar a madeira. Mais de 20 anos depois, o órgão ambiental local autuou o proprietário e as árvores foram cortadas, mas como sobraram alguns indivíduos da espécie exótica e não houve o controle adequado, o processo de invasão biológica não cessou. Atualmente, em 2023, os pinheiros estão avançando rapidamente para o interior das duas Unidades de Conservação e se a espécie não for erradicada em pouco tempo, a invasão deve se tornar incontrolável.
Os pinheiros estão entre as principais espécies exóticas invasoras no Brasil. As plantas exóticas invasoras competem com espécies nativas por espaço ou impedem o crescimento de plantas nativas, o que diminui a diversidade da flora e o suprimento de alimento (folhas, flores e frutos) à fauna. Além disso, muitas espécies são responsáveis por disseminar doenças e pragas.
Segundo o professor Abel, o monitoramento comprovou os efeitos negativos dessa espécie exótica invasora sobre a biodiversidade no Cerrado da APA Marimbús-Iraquara, como redução no número de espécies, alta dominância da espécie exótica invasora promovendo sombreamento e acúmulo de folhas do pinheiro, o que está alterando a estrutura e funcionamento do Cerrado invadido.
O monitoramento realizado durante o mês de outubro e a retirada das árvores faz parte de uma ação do PAT Chapada Diamantina-Serra da Jiboia, com financiamento do Projeto Pró-Espécies: Todos contra a Extinção. O estudo avaliou diferentes técnicas de manejo sobre Pinus para que o manejo de pinheiros em cerrados seja aprimorado e aplicável em outras áreas invadidas.
O trabalho não terminará com a retirada das árvores. Será necessário monitorar a área por mais três anos devido ao alto potencial de dispersão dos pinheiros, que já espalharam sementes continuamente armazenadas no banco de sementes e que devem germinar em pouco tempo.
O mapeamento de espécies exóticas invasoras na região começou desde a criação do PAT Chapada Diamantina-Serra da Jiboia, mas é a primeira vez que ocorre o manejo do pinus. De acordo com Sara Alves, coordenadora do PAT, paralelo ao primeiro mapeamento foram realizadas ações de educação ambiental com proprietários do local para evitar o plantio de novas espécies exóticas invasoras na região porque muitas vezes as pessoas plantam por desconhecimento. Ainda segundo Sara, será feito um esforço para que a madeira retirada tenha uma destinação sustentável.
Pró-Espécies
O Pró-espécies: Todos pela Extinção, lançado em maio de 2018, trabalha em conjunto com 13 estados do Brasil (MA, BA, PA, AM, TO, GO, SC, PR, RS, MG, SP, RJ e ES) para desenvolver estratégias de conservação em 24 territórios, totalizando 62 milhões de hectares. O projeto busca reduzir as ameaças e melhorar o estado de conservação de pelo menos 290 espécies categorizadas como Criticamente em Perigo (CR) e que não contam com nenhum instrumento de conservação.
A ação é financiada pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, da sigla em inglês para Global Environment Facility Trust Fund), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), sendo o WWF-Brasil a agência executora.