ICMBio coordena plano de conservação para polinizadores que ajudam a nossa subsistência
Por Mariana Gutiérrez
O Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Insetos Polinizadores (PAN Insetos Polinizadores) está sendo elaborado com o objetivo de promover ações para conservação das espécies ameaçadas de extinção desse importante e diverso grupo de organismos.
Os polinizadores promovem um serviço essencial para a manutenção da biodiversidade terrestre. Na busca por recursos florais, eles transferem o pólen entre as estruturas reprodutivas das flores, promovendo a polinização. As abelhas são os principais polinizadores, sendo fundamentais para a reprodução das plantas e produção de alimentos de origem vegetal. A partir da polinização formam-se sementes e frutos, que são consumidos amplamente por humanos e diversos outros animais.
O começo do PAN Insetos Polinizadores está relacionado à crescente preocupação com a situação de conservação de diversos insetos, incluindo as abelhas. Em novembro de 2019, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) iniciou a elaboração do Plano sob a coordenação do analista ambiental Onildo Marini Filho, do Centro Nacional de Avaliação da Biodiversidade e de Pesquisa e Conservação do Cerrado (CBC/ICMBio). O PAN terá uma abrangência nacional com espécies que habitam diversos biomas como: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa.
A Oficina preparatória teve apoio do Projeto Pró-Espécies: Todos contra a extinção, na qual foram definidas as espécies ameaçadas que serão contempladas, as principais ameaças e a área de abrangência. Considerando a dificuldade de se implementar um Plano desta magnitude, foram criados Núcleos Gestores (NGs) que irão auxiliar na gestão do PAN através da descentralização de sua execução.
“Este é provavelmente o PAN mais importante que já elaboramos até hoje no ICMBio, não só pelo grande número de espécies trabalhadas e abrangência nacional, mas por tratar de um serviço ecossistêmico da maior importância para a manutenção da vida no planeta. O sucesso desse PAN será medido pela maior conscientização da importância dos polinizadores pela sociedade brasileira” explica Onildo Marini, coordenador do PAN Polinizadores.
Para ser incluída na lista de espécies do PAN, a espécie deve ser ameaçada de extinção e reconhecida como polinizadora. No total, mais de 60 espécies foco estão previstas para serem contempladas, entre borboletas, mariposas e abelhas.
Oficinas de Planejamento virtuais
O trabalho iniciou pouco antes do início da pandemia de Covid-19. No entanto, prevendo que essa situação perduraria, a coordenação do PAN Insetos Polinizadores optou por continuar de forma remota. Foram programadas oficinas de planejamento virtuais para os sete NGs que formam o PAN. A divisão das reuniões por NG visa facilitar a dinâmica do grupo devido as limitações das ferramentas virtuais, cada um com cerca de 20 a 30 participantes.
A primeira oficina de planejamento, contemplando o NG-4, da Serra do Espinhaço e Chapadas adjacentes a Bahia, acaba de ser concluída. A oficina analisou as ameaças que os insetos sofrem nessa região, assim como as propostas do objetivo geral, dos objetivos específicos de conservação e elaborou um “cardápio de ações” visando reduzir as ameaças.
Foram realizadas quatro oficinas virtuais para o NG-4, com a média de 22 participantes de 13 diferentes instituições: Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e representantes do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA-BA), Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG), Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), Amplo Engenharia (AMPLO), Área de Proteção Ambiental do Morro da Pedreira (ICMBio), Coordenação de Identificação e Planejamento de Ações para Conservação (COPAN/ICMBio), CBC/ICMBio, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Sudeste e Sul (CEPSUL/ICMBio) e Ministério do Meio Ambiente (MMA).
“Nos últimos anos, o apreço as abelhas nativas do Brasil vem aumentado. O conhecimento gerado por especialistas em diversas áreas (ex. taxonomistas, sistematas, ecólogos, botânicos e biogeógrafos) contribuiu para a quebra de paradigmas. Hoje o público leigo é capaz de reconhecer espécies de abelhas, seja ela social (ex. meliponíneos) ou solitária (ex. mamangava polinizadora do maracujá). A importância das abelhas vem sendo reconhecida pelo setor produtivo, e as espécies nativas passaram a ser criadas para a obtenção de recursos como mel e “própolis” ou para a polinização de culturas. Através do PAN Insetos Polinizadores as principais ameaças para as abelhas na atualidade foram levantadas, assim como as ações para mitigá-las a curto, médio e longo prazo” explica o pesquisador, José Eustáquio dos Santos Júnior.
Nas oficinas virtuais do NG-4, foram criados dois grupos temáticos para auxiliar no planejamento e implementação do PAN, o grupo de “Taxonomia dos insetos polinizadores”, e o grupo de “Mapeamento das redes de interações entre os polinizadores e suas plantas”.
Com os resultados do levantamento realizado pelo grupo de Taxonomia dos Insetos Polinizadores, foi possível identificar nos NGs outras espécies de abelhas ameaçadas a nível estadual. A ocorrência das espécies foi identificada nos estados de Bahia e Minas Gerais, com essa inclusão dobrou o número de espécies de abelhas que podem ser contempladas pelo PAN Insetos Polinizadores.
A partir da revisão bibiográfica realizada pelo segundo grupo temático, foi possível perceber uma considerável deficiência de dados em relação às plantas visitadas pelos insetos polinizadores ameaçados. Especialmente para Lepidoptera, não se tem nenhum registro de interação para 66% das espécies. Apesar disso, há informações de registro floral para lepidópteros criticamente ameaçados, como Actinote zikani e Parides burchellanus.
Já as plantas que são visitadas e polinizadas pelas espécies de abelhas são mais conhecidas, como pode ser visualizado na figura abaixo, que representa uma rede de interação entre as espécies de plantas (círculos verdes) e abelhas ameaçadas de extinção (círculos amarelos).
A abordagem por meio da interação inseto-planta é também uma inovação nos Planos de Ação, permitindo uma visão ecossistêmica da conservação e a integração de instrumentos para proteção da fauna e flora.
Etapas futuras
Nos passos seguintes, os resultados da oficina do NG-4 serão levados para o próximo NG e assim consecutivamente, até o término das Oficinas de planejamento. Ao final, está prevista uma reunião presencial para a consolidação do PAN com representantes de todos os NGs, incluindo atores de abrangência nacional.
É importante destacar que o próximo desafio para o PAN Insetos Polinizadores reside em estabelecer uma rede de articuladores e colaboradores de diferentes instituições. A participação ativa do setor produtivo é essencial, uma vez que, os insetos polinizadores podem aumentar significativamente a produção de diferentes culturas que movimentam a economia brasileira.
*Em colaboração técnica com Hannah Farinasso, bolsista do CBC/ICMBio