Texto: Patrícia da Rosa, Gláucia Crispim Ferreira, Gustavo Martinelli e equipe Núcleo Lista Vermelha
A reavaliação do estado de conservação de espécies da Flora do Brasil é uma ação necessária desenvolvida pelo Centro Nacional de Conservação da Flora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (CNCFlora/JBRJ), no Componente 1 do Projeto Pró-Espécies.
O Núcleo Lista Vermelha do CNCFlora e cerca de 100 cientistas especialistas em taxonomia vegetal produziram 409 reavaliações do estado de conservação (2019-2020), com suporte do Núcleo de Tecnologia da Informação e da coordenação geral. As árvores e arbustos reavaliados vivem, predominantemente, nos biomas Mata Atlântica e Amazônia. Grande parte ocorre nos territórios selecionados para PATs,sendo que 82% das espécies estão na Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção (Portaria MMA 443/2014).
A reavaliação permite a atualização do conhecimento do estado de conservação das espécies, conforme orientação do Programa Nacional de Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção – Pró-Espécies (Portaria MMA 43/2014; § 2º do art. 7º). Esta atividade foi impulsionada pela digitalização das coleções biológicas, em cada um dos projetos: Flora do Brasil 2020 online, JABOT, Reflora e pela produção científica da última década.
O processo de reavaliação é produzido no sistema CNCFlora e segue as diretrizes da IUCN. Inicialmente é realizada a compilação de novos dados sobre distribuição geográfica, tamanho da população, ameaças incidentes e ações de conservação; em seguida, os dados são validados pelos especialistas. Os avaliadores realizam a comparação entre os dados da primeira avaliação (2012-2014) com os dados atuais, gerando assim a reavaliação de 2020.
Resultados avaliados e validados
Na figura abaixo, observa-se a transição das espécies nas categorias: 22% (90 spp.) subiram de categoria (uplisting), ou seja, houve o aumento no risco de extinção, 23% (96 spp.) tiveram o risco diminuído (downlisting) e 54% (223 spp.) não sofreram alterações nas categorias do estado de conservação.
Infelizmente, nenhuma espécie teve melhora genuína no estado de conservação, ou seja, ainda são necessárias ações direcionadas e que propiciem o aumento da população e a diminuição das ameaças. Atribui-se a melhora no risco de extinção das 96 espécies, principalmente, às novas informações de distribuição geográfica.
As principais ameaças continuam sendo o formato de expansão da agricultura e pecuária sobre áreas com vegetação nativa, a exploração de recursos biológicos e a expansão urbana.
Esperamos que os novos dados sejam incorporados na atualização da Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção e contribuam com a elaboração dos Planos de Ação Territoriais (PATs) no Projeto Pró-Espécies. Dessa maneira, poderemos medir as melhorias promovidas pelo projeto nas próximas reavaliações do risco de extinção.
Nota 1: Resultados apresentados nos relatórios técnicos da contratação de bolsistas para atuação no CNCFlora por meio do Projeto Pró-Espécies (Produto 4 – 1º Aditivo de contrato – Ano I Julho de 2019 e Produto 4 – Ano II Abril de 2020).
Figura 1: Gráfico aluvial demonstrando os resultados da reavaliação do estado de conservação de 409 espécies. Na coluna da esquerda estão os resultados da primeira avaliação das espécies ocorrida entre 2012-2014, na coluna da direita estão os resultados das reavaliações do risco de extinção. As linhas e curvas no gráfico mostram o comportamento da avaliação ao longo do tempo, no qual há espécies que permaneceram na categoria e outras espécies que tiveram aumento ou diminuição na categoria do risco de extinção.