Pesquisadores alertam sobre impactos das mudanças climáticas em cavernas 

Publicado em 11 de fevereiro de 2025
Pesquisadores alertam sobre impactos das mudanças climáticas em cavernas 

Monitoramento e preservação do PAT Caminho das Tropas buscam mitigar os impactos nesses refúgios naturais

As cavernas, conhecidas por sua estabilidade e resiliência ao longo de milhões de anos, agora enfrentam uma ameaça crescente, com impactos imprevisíveis: as mudanças climáticas. Alterações na temperatura e umidade, combinadas com a degradação do entorno, estão comprometendo esses ambientes, colocando em risco a biodiversidade local. O cenário preocupante acendeu o alerta da equipe do Plano de Ação Territorial para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção Caminho das Tropas, que vem desenvolvendo ações de monitoramento e preservação para esses refúgios naturais.

A preocupação dos biólogos que atuam no plano, que integra o Projeto Pró-Espécies: Todos contra a Extinção, impulsionou o monitoramento da fauna cavernícola e duas espécies estão entre os alvos das ações: o besouro Coarazuphium ricardoi e caramujo Potamolithus karsticus. Nas expedições recentes, realizadas em 2023 e 2024, a equipe ainda conseguiu identificar novas espécies e redescobrir uma espécie de piolho-de-cobra, não observada desde os anos 1940. 

Maria Elina Bichuette, responsável por pesquisas e expedições espeleológicas do Laboratório de Estudos Subterrâneos da Universidade Federal de São Carlos, reforça que reencontrar espécies ressalta a necessidade de mais expedições e pesquisas para documentar e preservar a biodiversidade subterrânea. “Apesar de terem se mantido estáveis por milhares a milhões de anos, as cavernas estão perdendo sua resiliência. Espécies adaptadas a condições específicas, como umidade elevada e pouca variação na temperatura, estão se restringindo a micro-habitats mais protegidos”, afirma. 

Para mitigar os impactos das mudanças climáticas, a especialista destaca a necessidade de realizar pesquisas que foquem o monitoramento nas cavernas, com instalação de termohigrômetros e dataloggers, que permitem medir temperatura, umidade do ar, como também  variações nos corpos d’água. Ainda, estudos paleoclimáticos utilizando espeleotemas (por exemplo, estalagmites), ajudam a compreender as alterações ao longo do tempo, em escala de milhares a milhões de anos. Além disso, o monitoramento da fauna cavernícola e da qualidade ambiental ao redor desses ambientes é essencial para avaliar as alterações relacionadas às mudanças climáticas e implementar ações para sua proteção.

“A degradação do entorno das cavidades, causada por desmatamentos e empreendimentos como mineração, intensifica os efeitos das mudanças climáticas, reduzindo os recursos disponíveis para a fauna e aumentando a vulnerabilidade desses ecossistemas. A ciência precisa ser mais ágil em documentar e reportar essas alterações. Precisamos agir o quanto antes”, completa.

Extinção de espécies

Kleber Makoto Mise, biólogo com mestrado e doutorado em Entomologia pela Universidade Federal do Paraná, explica que grandes alterações no ambiente externo podem impactar os processos evolutivos dentro das cavernas, que tradicionalmente eram estáveis. Isso pode levar à extinção local de espécies específicas. “Há casos de que um grande volume de água entrou em cavernas e acumulou matéria orgânica, bloqueando o sistema de drenagem natural, e elevando o nível da água. Esse evento trouxe espécies incomuns para o ambiente, como cobras, alterando todo o ecossistema”.

 

O biólogo e pesquisador Peterson Leivas reforça a sensibilidade da fauna endêmica das cavernas às mudanças externas, que podem alterar as condições físicas, microbiológicas e climáticas dentro desses ambientes. “Regimes hídricos irregulares podem secar cavernas que possuem rios em seu interior. Nesses casos, espécies adaptadas exclusivamente a esse habitat, como peixes cegos e invertebrados que só vivem ali, ficam em risco. Se o clima interno da caverna for alterado, especialmente pela redução da umidade, o microclima é comprometido, aumentando o risco de extinções locais dessas espécies altamente especializadas”, alerta.

Para Maria Elina, o futuro das cavernas e de sua biodiversidade exige atenção e ações imediatas. Esses esforços também dependem de maior visibilidade e conscientização pública, com destaque para o potencial do turismo científico em promover a importância das cavernas e sua biodiversidade. “As cavernas são indicadores vitais das mudanças climáticas e contam histórias que vão além de sua estrutura física. Preservá-las é um dever ambiental e histórico”, conclui.

 

Preservação da biodiversidade 

O território do PAT Caminho das Tropas contempla uma área de mais de 12 milhões de hectares, integrando um total de 163 municípios do Paraná e São Paulo. São alvos das ações 23 espécies, sendo 15 de flora e 8 de fauna. 

Um dos diferenciais desse território é a rica geodiversidade, que exerce influência tanto nos ecossistemas de superfície quanto nos subterrâneos. As condições únicas para o desenvolvimento de grupos biológicos altamente especializados, adaptados às particularidades desses ambientes são fatores determinantes para o desenvolvimento de ações de preservação nessa área. 

Com mais de 1.100 cavernas documentadas pela ciência e um imenso potencial para novas descobertas, pesquisadores acreditam que o local oferece a oportunidade de encontrar espécies nunca antes descritas pela ciência, especialmente de invertebrados. Além disso, possibilita a identificação de relações ecológicas únicas e interações inéditas entre os aspectos da biodiversidade e da geodiversidade, destacando a singularidade desses sistemas naturais. 

Para saber mais sobre o PAT Caminho das Tropas, acesse:

Plano de Açao Territorial para Conservaçao de Espécies Ameaçadas de Extinçao Caminho das Tropas Paraná-Sao Paulo

 

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